Este ensaio originou-se de pesquisa iniciada em 1987, sobre o zoomorfismo e a simbólica animal, temática fascinante, com múltiplas possibilidades de investigação e reflexão. Uma delas a atraiu sobremaneira, confessa a autora: o que revelaria um estudo sobre a fábula brasileira? A obra é uma resposta a essa pergunta.
O ponto de partida da autora foi o ABC da literatura Ezra Pound, cuja terceira parte é intitulada 'Mini-antologia do paideuma poundiano', em que a palavra 'paideuma' é definida como 'a ordenação do conhecimento de modo que o próximo homem (ou geração) possa achar, o mais rapidamente possível, a parte viva dele e gastar um mínimo tempo com itens obsoletos'.Depois de um amplo levantamento do que se pode entender por fábula na literatura mundial, tanto da mais remota humanidade como da atualidade, a autora foi levada à conclusão de que o Brasil é um grande estuário, para o qual convergiram e no qual se mesclaram fábulas de todas as procedências.
Nesse estuário, procurou detectar os diferentes tipos de fábula brasileira e acabou por chegar a uma primeira classificação: fábula aprendizagem, fábula didático-moralista, fábula admiração e fábula moderna. Cada uma delas subdividindo-se em outros subtipos, que são estudados com cuidado na sua estrutura e de que se dão muitos exemplos convincentes. Tais divisões e subdivisões visam propiciar um aprofundamento quanto às origens ou natureza de cada forma fabular radicada no Brasil, com especial ênfase à fábula brasileira, que classificamos como 'sábia e saborosa', em que prevalece, porém, o gênero fábula admiração. Registra-se, por isso, quando nasce no Brasil ou é recriada por brasileiros a fábula admiração, sem que se desconheça que isto não impede a circulação, entre nós, dos demais tipos de fábula, até mesmo da fábula didático-moralista, que por sua vez subdivide-se em quatro tipos.
Transcorridos vários anos do término dessa pesquisa, em múltiplas ocasiões, com ouvintes de diferentes idades ou escolaridades, tanto do ensino fundamental quanto do médio e do superior (por exemplo, em cursos de graduação ou pós-graduação), ao contar fábulas brasileiras, classificadas como 'fábulas admiração', em suas espécies, a autora recebeu um festival de risadas, que interpreta como confirmação da validade de sua tese.