Uma das mais sutis e universais opressões que povoam a história, inclusive na tradição bíblica, é, sem dúvida a submissão da mulher ao homem, que se reveste ainda, para muitas tradições religiosas, como uma expressão da vontade de Deus inscrita na própria natureza.
Não era, pois, de admirar que a teologia da libertação provocasse um movimento de reflexão feminista, desde que as mais sagradas tradições do Povo de Deus fossem lidas a partir da experiência feminina como chave hermenêutica própria para a descoberta da igualdade de origem perdida desde que se consumou a ruptura na realização do desígnio de Deus sobre a humanidade.
Nessa perspectiva, da experiência concreta de vida como elemento interpretativo da tradição bíblica, foi elaborado esse rico livro de Teologia Feminista, que aparece como oitavo volume da série 'Teologias bíblicas', da coleção Bíblia em Comunidade. Podemos dividir esta obra em duas grandes partes.
A primeira, de cunho mais hermenêutico e metodológico, compreende o primeiro capítulo, 'Nossa vida, nossa Bíblia'. A autora entra pela porta do cotidiano, da vida, da história, daquilo que ficou registrado na memória de mulheres e homens que deixaram por escrito sua experiência existencial e relacional, situada em contextos androcêntricos e patriarcais.
O segundo capítulo aborda as 'Experiências de mulheres em textos do Primeiro Testamento', contextualizadas numa sociedade patriarcal, sem esquecer que nem tudo o que foi vivido foi escrito.No terceiro capítulo, 'Leis e relações de gênero no Êxodo e Deuteronômio', a autora analisa dois textos significativos, um do Êxodo (cf. Ex 21,2-11) e outro do Deuteronômio (cf. Dt 15,12-18), nos quais as leis espelham as relações sociais dominantes na sociedade, apontando retrocessos e avanços dentro da legislação, evidenciando mudanças nas relações sociais.
